Missa da Meia-Noite (2021) – Análise

Famoso por adaptações de autores consagrados do terror, Flanagan acerta a mão com roteiro próprio em Missa da Meia-Noite


Missa da Meia-Noite é o mais novo lançamento do diretor Mike Flanagan, famoso pelas adaptações A Maldição da Residência Hill e A Maldição da Mansão Bly. A série foi lançada em 24 de setembro de 2021, na Netflix.

Quando falamos de terror, o que vem à cabeça das pessoas que não costumam se aprofundar no tema são as obras mais famosas, como Sexta-Feira 13, Pânico, entre outros clássicos que se baseiam na carnificina, ou em muitos sustos (os famosos jumpscares).

Mesmo que estes sejam os mais fáceis de cair no gosto popular, o terror deve ser visto e explorado de várias formas. Obras sem muitos sustos ou mortes são muitas vezes desvalorizadas, e não atingem às expectativas ao mencionar a palavra “terror”. Mas terror é muito mais que isso, e Mike Flanagan tem uma parte importante no tema, ao trazer este outro lado para as massas.

Antes de começarmos, confira o trailer!

Missa da Meia-Noite – Enredo

A história de Missa da Meia-Noite se passa na pequena Ilha Crockett, uma comunidade estadunidense de apenas 127 habitantes, com sua economia praticamente toda baseada na pesca. Acompanhamos o retorno de Riley Flynn à comunidade, após um tempo tentando a vida no continente, e mais quatro anos preso por dirigir embriagado o que culminou no assassinado de uma jovem.

Seu retorno se dá quase ao mesmo tempo que a chegada do Padre Paul Hill à comunidade. Paul veio para substituir temporariamente o Monsenhor Pruitt, um padre idoso, já apresentando sinais de demência. Antes que seu estado de saúde piorasse, a comunidade se juntou, e proporcionou uma viagem ao sacerdote pela Via Crucis. Padre Paul informa à comunidade que Monsenhor Pruitt está com algumas questões de saúde, mas está se tratando no continente.

Mas apesar de uma desconfiança inicial, Padre Paul, com seu carisma e boa oratória, começa a conquistar os fieis, especialmente quando coisas estranhas começam a acontecer na ilha, desde o aparecimento de centenas de gatos mortos na orla, até verdadeiros milagres presenciados na comunidade.

Enquanto a presença do Padre Paul se torna mais forte, os cidadãos enfrentam seus próprios fantasmas ao passo que tentam entender o que está acontecendo, cada um baseado em sua fé, seja na religião, na família, ou nos amigos. E a linha que cada um segue traz uma visão sobre o real motivo de tudo aquilo estar acontecendo na Ilha Crockett. O sobrenatural é algo que precisam aceitar? Ou será que é algo que precisam combater?

Elenco

Quem conhece as obras de Flanagan já pode esperar as figurinhas carimbadas, sejam presentes em (quase) todas as obras anteriores, ou os que alternam entre uma obra e outra. Vamos trazer aqui os personagens mais marcantes da série.

Em Missa da Meia-Noite, podemos ver o “porto seguro” de Flanagan na atuação de Kate Siegel (como Erin Greene), Henry Thomas (como Elliot…digo, Ed Flynn), atores que estão em muitas obras de Flanagan.

Com menos participações, mais ainda conhecidos, temos Samantha Sloyan (como Beverly Keane), Rahul Kohli (como o Xerife Hassan) e Alex Essoe (como Mildred Gunning).

Na parte dos “desconhecidos”, temos Zach Gilford (como Riley Flynn), Hamish Linklater (como Padre Paul), ambos com atuações muito convincentes e carismáticas. Destaque para Linklater, que trouxe uma interpretação dramática muito importante para a série, diferente do que estamos acostumados em outras obras em que atua.

Vale mencionar que, para ser um bom ator de comédia, é preciso ser um bom ator dramático também, e Linklater roubou a cena em muitos momentos.

E, mesmo com vários rostos conhecidos, a atuação destes personagens é única e verossímil, que a gente até esquece que eles participaram em outras obras. Os mesmos atores conseguem ser memoráveis em cada nova série lançada.

Efeitos Visuais

A produção evita efeitos especiais computadorizados, os famosos CGI, e prioriza o uso de efeitos especiais práticos como maquiagens e bonecos.

Porém, em alguns personagens a maquiagem é tanta que é óbvio que é falsa e está exagerada, tirando um pouco do fator surpresa que ela poderia trazer. Já em outros a maquiagem é um elemento disfarçante e usada de forma brilhante pela equipe de produção.

Outro ponto que enche os olhos é a fotografia, tem cenas tão bem montadas, utilizando-se de luz e sombra que passa uma sensação opressora durante diálogos.

Referências

Importante começar falando que Missa da Meia-Noite é uma história do próprio Flanagan, que colocou muito de suas próprias experiências de vida na série, abordando o alcoolismo, assim como a própria visão (desde criança) do que é a missa católica.

Isso, misturado, virou o enredo base da série. Vale ressaltar que ela foi recusada várias vezes até ser aceita pela Netflix.

Vale conferir um curto making of lançado pela Netflix no YouTube aqui (só 3 minutinhos, confere lá!).

Uma referência que é quase como uma curiosidade: No film Hush – A Morte Ouve, também dirigido por Flanagan, Midnight Mass era o livro escrito pela protagonista, Maddie Young.

Terror como Crítica Social

O terror, na maioria das vezes, é uma ótima forma de trazer críticas de nossa sociedade, e em Missa da Meia-Noite temos um prato cheio para tratar do assunto. A série aborda, de forma muito forte, vários aspectos de nossa sociedade atual. Como tratar a culpa de se dirigir embriagado, e cometer um assassinato? Até que ponto a fé é algo saudável, e não um fanatismo que tolhe a liberdade e o pensamento do próximo?

Ao acompanhar Ridley Flynn, podemos ver sua evolução de um jovem inconsequente para alguém que amadurece com seus erros, e procura, no próprio sentimento de culpa, fazer algo certo para aqueles que ama. E aqui temos uma mistura do que é perdoar a si mesmo, e seguir em frente, com o que é seguir a fé e algo em que não acreditamos. Podemos dizer que o fim de Ridley Flynn na série é uma espécie de redenção de seus pecados?

Em outro ponto, vemos a atuação da fé em seus vários aspectos, desde a beata fanática, que enxerga em tudo uma intervenção divina, como aqueles que precisam “ver para crer”, e começam a acreditar após presenciar os milagres realizados na comunidade. Um ótimo ponto de reflexão aqui é: Será que podemos acreditar em tudo que vemos? Será que devemos acreditar naquilo que não vemos? Será que o que vemos é realmente um milagre? Todos estes pontos podem ser vistos e questionados no decorrer dos episódios.

E aqui temos um ponto muito importante, que é retratado na história do Xerife Hassan, e seu filho Ali. Qual o sentimento de dois muçulmanos recém-chegados a uma pequena comunidade fervorosamente católica? Inclusive, a passagem de Hassam, na discussão sobre ensino religioso na escola, e também ao discutir com Sarah, a médica cética da comunidade, são pontos que nos fazem pensar profundamente sobre o papel da religião na sociedade.

Conclusão

Missa da Meia-Noite consegue trazer uma obra concisa de drama e terror, com uma crítica incisiva do fanatismo religioso, e como isso pode afetar nossas vidas. Se você gostou de A Maldição da Residência Hill, e A Maldição da Mansão Bly, certamente vai gostar de Missa da Meia-noite também. Para os leitores que preferem uma obra com mais jumpscares ou mortes, pode se decepcionar, mas ainda assim, vale a pena conferir!


Quer saber um pouco mais? Falamos sobre Missa da Meia-Noite junto com o pessoal do Sofaverso! Acompanhe o episódio sobre Missa da Meia-Noite que gravamos com eles!

Aproveite e entre em nosso novo canal de notícias no Telegram!

About Fernando Lobo

Fã de jogos de Terror desde que colocou as mãos em uma cópia de Resident Evil, no Sega Saturn, em 1996. Consumidor frequente de literatura de terror e ficção, busca sempre novos autores neste nicho. Jogo preferido: Silent Hill 2. Livro preferido: O Iluminado.